Medo!

De despir-me das vontades
e nua de desejos e ensejos
perder minha identidade.
De desistir dos sonhos
e me imbuir de marasmos,
cultivando um amanhã enfadonho.
De mergulhar no vazio;
dele não conseguir sair
e por mais que eu tente, nele persistir.
De perder a inspiração,
vítima da síndrome do papel em branco
e fragmentá-lo com meu pranto.
De que a sombra se interponha
e me impeça de ver a luz,
o belo, o arrebol, o sol.
De que pensamentos funestos
conspirem contra mim,
no universo,
e me retornem ainda mais perversos.
De não encarar a verdade,
alienar-me à falsidade
e por mais que me custe,
mascarar a realidade.
De não ter ousado,
não ter lutado,
não ter recomeçado,
não ter acertado,
mesmo tendo amado.
Medo de não perder o medo.

Pausa!

Hoje resolvi pausar.
Fico aqui e deixo o mundo para lá.
Estática, vejo-o rodar.
Livre, com a sensação de não estar.
Leve é a impressão de levitar.
Ser (im)pensante, esquecida do instante,
Isolada do que não posso transformar.
Me volto para mim.
Sou corpo no vácuo
despejado por alguma turbulência.
Não clamo por sobrevivência.
Não chego a ser pânico nem solidão.
O meio termo define meu padrão.
Hoje tiro os pés do chão.
Afasto-me do mundo,
dou meia volta,
driblo os solavancos, os engodos, a revolta.
Sou meu próprio piloto
a resgatar micropartículas de mim.
Que a física quântica ou o
poder do pensamento
ou tudo que nos conduz,
façam prevalecer suas leis,
sem distâncias ou anos-luz,
e acelerem a teoria do fim.
(Ou recomeço).

Borboleta!

Se faz presente a liberdade.
Onipotente.
Súbita.
Inopinada.
Tão esperada!
Em tons de imensa beleza,
real singeleza
confrontando a escuridão da dor.
Luz incandescente
traz esperança.
Desativa fendas expostas em solo árido da alma,
do ventre, da gente.
Pousa em duras pedras.
Semeia pétalas.
Deixa a abstração,
grades de prisão.
Metamorfoseia, (e)feito borboleta!
Convida a voar.
Impactando o ar.

Sina!

Pleno de silêncios
um poema vermelho
se avoluma insensato
no clamor da poesia.
Palavra em queda livre
proclama danos
em questionamentos íntimos
escritos na areia.
Um poema vermelho
pleno de amanheceres
se avoluma infinito
no clamor da poesia.
Sedento de madrugadas,
desnuda-se em cálida ousadia
metáfora suicida
a acalantar destinos.

Verbo!

Feres feito espada
cravada no peito.
Tu, verbo clandestino,
que sem pudores
revela o destino.
Maldito, bendito,
consciência do infinito.
Não deixas meu sono tranquilo:
apontas meus desencantos,
com teu verbo santo.
Tu, verbo da glória
e meu profundo grito.
Hemorragia de letras
espalhadas em meu ventre.
Tu, verbo imoral,
navalha da língua,
verso decisivo.
Eu, verbo
e não apenas substantivo.

Sentires!

Na ponta do lápis
um mundo se abre:
formas, cores, palavras.
Sentires, melodias.
Na ponta do teclado
a existência se descortina:
mosaicos de vivências,
espelhos da humanidade.
Na expressão da arte
tudo é possível:
mesmo no mais improvável
o coração explode.

Dualiades!

Prefiro a dor do absurdo
a esse mundo apático
corrompido, sem sentido.
Prefiro a morte em silêncio
a palavras esdrúxulas
e aparências vazias.
Prefiro ossos rompidos
a ideias mesquinhas
e condutas banais.
Prefiro a poesia abismal
a versos felizes
ocultando todo mal.

Subliminar!

Tons de voz,
Silêncios, gestos,
zombarias.
O não dito entre o dito:
inércia.
Arquétipos do inconsciente,
sinais contínuos
de emoções reprimidas.
No silêncio e nas palavras
a mensagem grita.

Grito!

No diafragma aberto
o (des)concerto do ar:
uma música
que foi deixada
sem letra,
sem rumo
suplicando melodia.

Novo Mundo!

Enfim, um mundo novo:
sem pecados originais
e crueldades habituais.
Enfim, terra para todos:
natureza em harmonia
e humanos em sintonia.
Enfim, vida em plenitude:
beleza primordial
e amor incondicional.
Enfim, não mais utopia:
renascimento das almas
compartilhando a alegria.

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