Busca!

Busquei na transparência da manhã
motivos para desencadear o riso
ante a melancolia exposta em cada rosto,
a reviravolta de um ideal deposto,
como se fora um grito de agonia,
um pedido de socorro,
uma premonição,
um aviso.
Busquei no matiz das cores
flores para enfeitar o dia,
mas o encanto se murchou
junto à flor mais recolhida,
perfume a desimpregnar rancor
diante do desencanto da aflição,
e olhares perdidos na mesma direção.
Busquei levar consolação,
porém o desconsolo fez-se solução
e meu alento para mim voltou
feito flecha a penetrar o coração
sangrando a liturgia da doce ilusão.
Ideologia não se muda da noite para o dia,
não se vende feito peça de leilão.
Eis a questão.
Busquei falar através de versos,
da poesia que canta o perdão
e acalanta os reversos
restaurando a união,
mas o coração machucado
jamais ouve qualquer canção.
Recorro ao tempo.
Nele busco compreensão,
o amor que se desfez ao vento,
a paz que reina na exclusão,
e retornarão em uma manhã
banhada de luz e recomeços,
no silêncio da oração.