A lágrima já não chora,
seca ou deixa de nascer,
o riso perde a graça
não há razão de ser.
A dor se fecha em silêncio,
não mais vigora,
cansa de doer.
O verso que antes sorria
e atrevia a inspiração,
de morte quer se prover.
A arte nobre do artista
passa a ser vista
sem admiração.
A sensibilidade,
mãe que gera a verdade,
vira insensibilidade.
O ar rarefeito
impenetra o peito,
defronta o pulmão,
não há mais efeito,
ação, reação.
Não há coração.
Banaliza-se a essência,
de carência o amor se faz,
o homem sem consciência,
petrificado jaz.
Perde-se a ternura
no cais da desventura,
em portos que não se veem mais
a brandura dos abraços,
a tristeza dos jamais.
Auroras perdem belezas,
horizontes embromam linhas,
a morte peregrina,
a vida se desfaz.
jun 04 2021