Falhas!

Faltou dar significado à vida,
viver o instante antes da partida,
trancar a porta aos sentimentos precários,
desnecessários para um transcorrer palpável.
Renascer a cada dia
de esperança e alegria.
Faltou o recomeço,
o afã de reinventar motivos para comemorar
as artimanhas da sedução,
o fetiche da paixão.
Exorbitação.
Faltou alimentar os sonhos
que, enfraquecidos,
morreram sem desabrochar,
como um rio que nunca chega ao mar.
Faltou caminho,
chão aos nossos passos,
espaço para cultivar o bem que seria
as almas em união,
corpos em comunhão,
destino a nos conduzir ao nosso lugar.
Faltou poesia.
Versos se trombaram à revelia,
sem sequer um gesto de amor,
sem o encantamento da magia.
Faltou fidelidade à essência,
matéria-prima da existência.
Encarar o fracasso como reticências.
Faltou a demora na escolha das linhas
e das cores na trama dos teares
construindo o artesanato do amor
na delonga que exige o tempo,
seja lá quanto tempo for.
Amor não se constrói da noite para o dia.
Faltou futuro para tanta ousadia,
faltou bravura a desenhar o futuro,
faltou a firmeza do ancoradouro seguro.
Faltou confiarmos em nós mesmos.
Abraçarmos o que nos convinha.
Contermos os desatinos.
E sucumbirmos.