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No corpo nu
e na pétala macia.
No sino da alvorada
e nas estradas de pedra.
No carro que roncava ao longe
e na camiseta que não secou.
Na marca de refrigerante
e no tênis ideológico.
Na tristeza sem fim
e no presente de natal.
No braseiro de São João
e no enfeite da roupa.
No cabelo trançado
e na viola sem corda.
No caminho por fazer
e no ipê amarelo.
Na lenha no mato
e nas assombrações de sempre.
No alfinete colorido
e num busto de alabastro.
No retalho de chita
e no lustre do salão.
No beijo de cinema
e no espinho no pé.
Na água da mina
e no quem sabe amanhã.
Na última cena
e no trem descarrilado.
Numa prece de desespero
e nos cavalos a galopar.
No sol escaldante
e na lembrança do fim.
Na coleção de selos
e na mala desfeita.
No refrão proibido
e na frase de caminhão.
Somente uma imagem:
seu rosto.