Medo!

Medo!
De me despir das vontades
e nua de desejos e ensejos
perder minha identidade.
De desistir dos sonhos
e imbuir-me de marasmos,
cultivando um amanhã enfadonho.
De mergulhar no vazio,
dele não conseguir sair
e, por mais que eu tente,
nele persistir.
De perder a inspiração,
vítima da síndrome
do papel em branco
e fragmentá-lo
com meu pranto.
De que a sombra se interponha
e me impeça de ver a luz,
o belo,
o arrebol,
o sol.
De que pensamentos funestos
conspirem contra mim,
no universo,
e me retornem
ainda mais perversos.
De não encarar a verdade,
alienar-me à falsidade
e, por mais que me custe,
mascarar a realidade.
De não ter ousado,
não ter lutado,
não ter recomeçado,
não ter acertado,
mesmo tendo amado.
Medo de não perder o medo.