Não mais!

Não mais a inocência estampada,
tatuada no rosto,
no gosto,
nos traços,
nos passos da ingenuidade.
Tenra idade,
quando a verdade
feito um baluarte
sustentava a vida
chamada Felicidade.
Não mais a magia do encanto,
do surpreendente
rondando os cantos,
do inesperado sendo realizado,
da alegria em sorriso franco.
Não se escrevia:
via-se a poesia,
pintada em um cenário surreal,
interpretada pela euforia
de cada coração
onde a emoção brincava
além das fronteiras
ultrapassando o ápice da abstração.
Não, agora não mais assim.
Nada acabou,
tudo se transformou.
A ingenuidade virou maturidade,
a inocência chegou ao fim.
Felicidade se reduziu a momentos
poucos,
parcos,
finitos enfim.
A vida mostra uma outra face,
cara lavada,
sem disfarces.
O mundo ficou pesado,
profundo,
o sorriso não sai espontâneo,
o encanto gera desencanto,
mas ainda resta a poesia.
Nada ou ninguém irá roubá-la.
Ela traz a primavera todo dia,
bailando no ar.
Vibra a emoção adormecida
permeando sonhos
que persistem,
refletidos nas flores,
nas cores,
nos amores que ainda existem,
vivos em lembranças
que, hoje,
se chamam Saudade.