Prefiro o desequilíbrio lúcido
a revirar sentimentos calados
fazendo barulho para manter-me viva.
A seguir outro compasso
na contradança da vida,
que contraria e impede a valsa.
Prefiro perder-me de vista
e reencontrar-me nova,
onde se entremeia a pista
que, a todo instante, se renova
no salve-se quem puder
e salvarem-se todos,
entre mortos e feridos.
Prefiro atalhos cerzidos,
remendados um a um,
à reconstrução de caminhos
que não levam a caminho algum.
Entrego-me ao inesperado,
ao sonho inusitado,
às contradições do dia,
à luz de cada manhã,
à espera compulsória,
ilusória,
alienada ao mistério não revelado
da incerteza do amanhã.
Prefiro-me a mim,
como sou, assim,
(in)lucidez que vibra
a cada lampejo do sol,
com as miudezas da rua,
com as voltas do girassol,
com a nova fase da lua.
jun 04 2021