Entardecer

Quando a vida entardecer
quero continuar a viver,
ter belas recordações,
sentir outras sensações,
navegar através de experiências infindas
e desaguar nas emoções sentidas
sem me importar
com a fúria dos dias
ao entardecer.

Medo

O silêncio no ar
a tempestade a soar.
Medo do mundo,
da gente,
do que é terreno,
do existente.
As folhas na chuva,
a matéria de mim,
o medo da bruma,
da tempestade,
do eterno silêncio
no ar.

Mar

Além de mim existe o mar.
O mar em mim
inunda meus sentidos
me tornando água.
Ondas borbulhantes,
calmaria.
O vento espalha as ondas
na areia e desaparece.
Nada fica,
apenas a vastidão que se alonga
tomando os sentidos,
desfragmentando meus pensamentos.
A paz que tanto procuro,
que me faz viver.

Manhã de Outono

Se a manhã trouxe o vento outonal,
eu só soube das folhas secas
a compor cenários
tão sabedores de mim.
No acaso das linhas da minha mão,
li o necessário para que a lágrima furtiva
não fosse letra e música
de um dia em que as horas
tinham o compasso da memória,
do momento em que suas mãos tocaram as minhas.
O silêncio,
anotado nas páginas em branco,
as lições do existir
e o meu enrubescer
são o que sei
sobre estar distraído para o amor.

Horizonte

Hoje, queria escrever sobre o sorriso e a flor,
mas a urgência dos seus olhos
me fizeram só saber
que eu ainda busco no horizonte,
desenhado nas folhas avulsas,
sua chegada e suas histórias
dos mares do sul.
Hoje, no ensimesmado de tudo,
não permiti que a lágrima
profetizasse o sonho
e o quase mistério de seu corpo,
não fosse o fim
nem o começo
das alegrias inventadas
e dos beijos que não dei.
Há orvalho e tantas outras coisas,
mas eu desejo o horizonte
apenas.

Pensamentos Soltos

Na presença do corpo desejado
e nos dias simples de chuva.
Na noturna solidão
e no contar das estrelas
que se confundem com as margaridas.
No princípio dos passos incertos
e na saia rodada que faz ciranda e melodia
para aqueles que chegam.
Na prece resoluta
e no vidro quebrado:
pensar tem sido custoso,
pois o relógio das emoções
insiste em mentir sobre tudo.

Amores

Se os amores vãos enternecem o dia,
as canções de antes surgem
na página em branco
e revelam os vestígios
do sonho.
Se a chuva cai sem mais,
o passado se faz imagem sem endereço
e descreve o momento do beijo
que, apesar dos ares de sempre,
desperta desejos intensos.

Tempo

Se as horas nada dizem,
preciso ouvir os oráculos do tempo.
Se chove lá fora,
preciso mentir sobre as ilusões
da última manhã.
Se os olhos atravessam
espelhos de mim,
adormeço sobre as páginas do livro
que me falam de você.
E o tempo?
Ah, o tempo,
oráculo da vida.

Final

Nunca soube dizer se a história teria fim
ou se o acaso sempre me iludira.
Nunca dispus de tempo para rios de lágrimas
ou para o sacrifício de nada dizer
em despedidas nas tardes sem sol.
Os segredos tão bem guardados
provocam raios e trovões.
Os amores que tenho
são labirintos e só.

Silhueta

Não tem nome
a silhueta que se esgueira entre destinos.
Não se sabe se essa sombra
que passeia no escuro da insone noite
carrega em si nuances de adulta ou de menina.
Não tem rosto
os rabiscos que se movem na folha branca,
incógnitos entre as dores mais doídas,
seguindo na pauta do tempo que urge.
Encontro alma,
com rimas ou sem
que, no velho sistema,
dão as cartas nos jogos da emoção.
E sem nome,
sem rosto,
seguem falando o que diz meu coração.

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