Olhar

Olho-te bem devagar.
Há sempre uma verdade
a ser descoberta,
uma porta fechada,
uma janela entreaberta,
uma luz apagada,
um brilho varando a fresta.
É preciso desvendar detalhes,
tocar teus limites,
trocar nossos olhares,
concedermo-nos nos ver
e até onde me permites
conhecer o que omites
o que não deixas transparecer.
Tatear o que me escondes,
desabotoar tuas pausas,
compreender tuas causas,
aceitar-te como és.
E no silêncio da resposta
que me percorre e corrói
mergulhar em tua fala
gritante, berrante, calada,
que dói.

Faces

Tenho muitos rostos
dos quais possuí.
Difícil saber quem foi
aquele que eu quis.
Amanhã virá outro
e agora, não há ninguém.
Já não vejo mais esse rosto
que jaz perdido na multidão.
Talvez, misturou-se aos demais.
E neste cais
na completa escuridão,
já nem sei quem é.
O que mais me impressiona
é a quantidade de faces
perdidas,
impregnadas,
indivisivelmente,
inóspitas,
eu realmente quis.

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