Fim de Tarde!

Fim de tarde,
infinitamente tarde!
Que faço do amor
que não se finda
com a tarde?
Como a tarde
dos sonhos que não se acabam,
embrenhados na tarde que se vai,
sem alarde.
Sem piedade,
sem aviso,
ela sai
e a nostalgia que fere,
cai
como fino punhal
trazendo o final.
Por toda parte
o amor invade.
Sem saber que já é tarde,
sem saber o quanto arde,
e quando é infinitamente tarde.
E a tarde finita e fria
se alastra pela noite
sem sonhos,
sem poesia
e acaba vazia.
Pelos cantos o amor se anuncia
pensando que ainda é cedo,
que ainda é dia,
que ainda cabe no curto espaço de tempo,
que cabe à tarde
que se finda,
roubando tanta magia.

Dancemos!

Dancemos.
Esvoaçando no ar,
voando sobre o mar,
girando por todo lugar.
Gravemos no ponto mais alto
nossa história de amor.
Dancemos.
Enfrentando fronteiras
sem luta ou rancor,
levando nossa bandeira
em ritmo de amor.
Que a leveza da dança
desfaça a dureza da dor.
Dancemos.
A dança dos cisnes.
E antes que a água se tisne
e a morte leve um de nós,
que ela nos leve a ambos,
dancemos.
Multipliquemos nossos passos
invadindo espaços
à medida da dimensão de nosso amor
e entre montanhas,
jardins e nuances
demos mais ênfase ao nosso clamor.
Dancemos,
deslizando por rios serenos,
cascatas brancas que entoam a paz,
cantemos a mesma canção
das águas dançantes
em tons bem iguais.
Dancemos
o bailado dos flamingos
em busca da alma gêmea,
santuários e cenários lindos,
incompatíveis à insensibilidade humana,
sublimando nobres sentimentos
antes do acasalamento.
Dancemos.
Cirandas da vida,
retratos de emoções,
ao som de melodias que vêm do coração
ao tecer coreografias plenas de poesias
onde o amor acontece sem nenhuma utopia.
Dancemos.
Deixemos falar a expressão da alma,
mostremos nossa transparência,
curvemo-nos em reverência
ao amor!

Escrevo!

Desfaço pensamentos,
dedilho-os.
Organizo ideias,
medito.
Escrevo sentimentos.
Dou sabor aos sentidos.
Rascunho poemas,
textos,
deslizo palavras.
Descrevo o amor,
a dor,
a alegria,
a tristeza,
a fé,
a esperança.
Abro portas,
escancaro a alma,
deixo janelas entreabertas:
assim o feixe de luz
penetra a vida,
dando sentido ao caminho.
Farol,
candelabro.
Traz o vento levemente.
Brisa que suaviza o ar,
embaralha os cabelos
e toca a face.
Sucumbo desejos,
planto a fé,
sorrisos,
amor!
Intensifico olhares para o mundo,
embalo sonhos,
dou cor ao pensar,
realizo a alma.
Planto ilusões,
Encanto.
Desencanto.
Navego,
passeio,
voo como borboleta.
Sonho!
Sou mar,
intensidade,
infinito,
horizonte.
Sou só,
fiel,
errante palavras
que escrevo!

Erotismo!

Erótica é a urgência da pele.
O sussurrar dos poros,
os sonhos,
e a mistura de duas peles que se buscam.
Erótica é a viagem dos sentidos,
a nova maciez,
o desenho reinventado,
os esboços que se compreendem.
É erótico o sentimento que se desprende
e acorda.
É erótico o deslumbramento do côncavo
que agasalha a tez sedenta.
É a vida que se define em sintonia,
em desejos múltiplos,
justos,
alimentados.
Erótica é a urgência da pele.
As profecias confirmadas,
o beijo que sorve a poesia antiga,
o suor que exala as proibidas confissões,
os tremores permitidos,
os mares de sofreguidão e raridades.
Erótico é o sussurro último
do rubor das duas peles.

(Maria Luiza Faria)

Sonho!

Procura andar onde o coração pede,
onde seu passo insista em estar
para que o sonho deslize
a contento de seu imaginar.
Espera o momento certo,
aquele que avisa
a hora de vestir a fantasia,
o instante da transformação,
da abstração para o concreto,
da mente para a consumação.
Invista no sonho:
é combustível para a vida,
janela para a liberdade,
é estar aqui dentro,
estando lá fora
a buscar entre perdidos e achados,
a verdade.
Então poderá voar
à procura do sonho mais bonito:
aquele que não está escrito
em qualquer página de livro
e, que, de improviso
leva às estrelas.

(In)lucidez!

Prefiro o desequilíbrio lúcido
a revirar sentimentos calados
fazendo barulho para manter-me viva.
A seguir outro compasso
na contradança da vida,
que contraria e impede a valsa.
Prefiro perder-me de vista
e reencontrar-me nova,
onde se entremeia a pista
que, a todo instante, se renova
no salve-se quem puder
e salvarem-se todos,
entre mortos e feridos.
Prefiro atalhos cerzidos,
remendados um a um,
à reconstrução de caminhos
que não levam a caminho algum.
Entrego-me ao inesperado,
ao sonho inusitado,
às contradições do dia,
à luz de cada manhã,
à espera compulsória,
ilusória,
alienada ao mistério não revelado
da incerteza do amanhã.
Prefiro-me a mim,
como sou, assim,
(in)lucidez que vibra
a cada lampejo do sol,
com as miudezas da rua,
com as voltas do girassol,
com a nova fase da lua.

Súplica!

Impede-me!
Tira-me o chão,
o rumo,
a direção.
Corta minhas asas,
impede-me de voar!
Arrebata-me os sonhos,
meu direito de sonhar.
Veda-me os olhos:
“O que os olhos não veem,
o coração não sente.”
Mas pressente!
Lacra-me o sorriso.
Sorrirei com a alma,
com a mente.
Escreve meu destino,
registra-o
em teu pergaminho.
Cerca meus caminhos,
obstrui meu caminhar.
Excita-me a sede,
mostra-me a fonte a jorrar.
Aprisiona meus sentimentos,
em catarse virão me encontrar.
Cala meus pensamentos:
juntos não vão dispersar.
Sequestra minha identidade,
tudo o que há entre mim e mim.
Anuncia meu fim.
Contudo jamais roubarás
o amor que me faz assim.

Versos!

Trago na boca sabor de sol,
calor incessante a aquecer o sonho.
No olhar, a luz jorrada pelo arrebol,
acesa pela esperança de um porvir risonho.
Na garganta, a voz rouca de quem silencia
o brado resguardado a esperar pelo dia
de se fazer ouvir o que a alma fala.
Trago nas mãos a calosidade da lida,
missão por hora cumprida,
o que me reservou a vida,
simples guarida,
acervo de minhas rimas e composições,
palavras recolhidas de minhas emoções
levando-me onde bem quero,
onde almejo e espero
a realização dos sonhos.
Trago na alma a lágrima do inocente
que, ao se calar, consente,
a culpa que jamais foi sua,
julgado a revel,
justiça incomplacente,
verdade inconveniente,
injustiça a prevalecer,
e o culpado jamais castigado.
Minha impotência em só descrever
fragilidades em estrofes e versos
captadas de um mundo adverso
talvez possa ir além de escrever:
um dia toque o ser insensível
e quem sabe fale ao coração de alguém.

Causa Mortis!

A lágrima já não chora,
seca ou deixa de nascer,
o riso perde a graça
não há razão de ser.
A dor se fecha em silêncio,
não mais vigora,
cansa de doer.
O verso que antes sorria
e atrevia a inspiração,
de morte quer se prover.
A arte nobre do artista
passa a ser vista
sem admiração.
A sensibilidade,
mãe que gera a verdade,
vira insensibilidade.
O ar rarefeito
impenetra o peito,
defronta o pulmão,
não há mais efeito,
ação, reação.
Não há coração.
Banaliza-se a essência,
de carência o amor se faz,
o homem sem consciência,
petrificado jaz.
Perde-se a ternura
no cais da desventura,
em portos que não se veem mais
a brandura dos abraços,
a tristeza dos jamais.
Auroras perdem belezas,
horizontes embromam linhas,
a morte peregrina,
a vida se desfaz.

Navegante!

Navega, pensamento:
cruza os mares,
enfrenta as marés,
acalma a turbulência,
germina os ares
da mais pura essência.
Desperta os sonhos
que geram resplandecência.
Junta-te a eles,
percorre a luz,
inebria-te da luminosidade.
Perde-te nesse clarão,
fecunda-te de significados,
percorre o infinito
alheio ao sol eclipsado,
ignora a escuridão.
Cresce seguindo sempre
a melhor direção.
Navega, pensamento:
não temas as calmarias.
Insiste em teu intento
mesmo que não haja vento,
ainda que na contramão do tempo.
Iça as velas do teu barco,
vive esse momento,
peregrino bardo.
És livre,
podes seguir em frente,
alcança o teu desejo,
tu, que podes navegar,
busca o teu ensejo,
realiza os sonhos
que eu sempre quis realizar.
Vai, adentra as brumas do oceano,
desvenda-lhe os mistérios,
arranca-lhe os panos,
envereda-te em seus encantos
reais e surreais,
constrói os teus castelos,
povoa-os de ideais
e volta para me buscar.

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